A fortificação simplesmente consiste no acréscimo de nutrientes adicionais a um produto alimentar durante a sua produção. Isso pode tanto referir-se a uma fortificação em massa de alimentos básicos determinada pelo governo, a fim de tratar uma deficiência da população, quanto a uma fortificação voluntária por parte de fabricantes que decidem enriquecer seu produto com um determinado nutriente (ou nutrientes), a fim de aumentar seu valor nutricional. Isso confere aos produtos o status de “alimentos funcionais”, sendo estes frequentemente orientados para o mercado. Talvez você não se dê conta de quantos produtos consumidos diariamente são, na verdade, alimentos fortificados, pois estes se tornaram uma parcela significativa de nossa alimentação em países desenvolvidos.
Vamos dar uma olhada em alguns dos equívocos sobre fortificação alimentar, a fim de que você possa decidir com mais embasamento o que vai para o seu prato.
Equívoco: eles não são seguros
Alimentos fortificados não são de modo algum tóxicos para o se corpo. A única coisa com a qual você tem que se preocupar é com o alimento “hospedeiro”, isto é, o alimento que foi fortificado. Por exemplo, biscoitos de chocolate enriquecidos com fibras continuam sendo biscoitos de chocolate, podendo não ser a opção mais saudável! Estudos têm demonstrado que o consumo de alimentos fortificados na dieta de todo dia não contribuem para quaisquer efeitos prejudiciais à saúde. Um estudo em particular do Reino Unido concluiu que, de seus 1.379 participantes, ninguém atingiu o limite máximo (a ingestão diária máxima recomendada pelos profissionais de saúde) ou o nível tóxico de nenhum nutriente através do consumo de alimentos fortificados. Consequentemente, a conclusão foi que alimentos fortificados não têm efeitos nocivos para os consumidores. Além disso, o estudo constatou que os indicadores nutricionais aumentaram significantemente em consumidores de alimentos fortificados. De fato, até 20 por cento dos nutrientes ingeridos pelos participantes do estudo vieram daqueles incorporados em alimentos.
Fabricantes são solicitados a aderir a regras e diretrizes rigorosas determinadas por um órgão administrativo conhecido como o Codex Alimentarius Commission, que determina as diretrizes internacionais para segurança alimentar. Além disso, a Austrália tem suas próprias diretrizes, conhecidas como Food Standards Australia New Zealand (FSANZ), às quais fabricantes precisam aderir se quiserem vender na Austrália. Outras regiões, incluindo a União Europeia, tem seus próprios regulamentos relativos à adição de vitaminas, minerais e outras substâncias a produtos alimentares e bebidas.
Equívoco: é tudo marketing
Pode ser verdade que a fortificação voluntária de alimentos ou alimentos aos quais iremos nos referir como “alimentos funcionais” são, às vezes, orientados para o mercado. Os fabricantes que utilizam a fortificação para comercializar seus snacks ou produtos açucarados enquanto “alternativas mais saudáveis” conferem uma má reputação à fortificação. No entanto, isso não significa que outros produtos fortificados não nos sejam benéficos.
Para as pessoas com deficiências nutricionais, os alimentos funcionais podem ser vitais para a saúde. Por exemplo, vegetarianos e veganos podem muitas vezes ter falta de ferro e ômega-3, assim como pessoas com intolerância à lactose podem sofrer com a falta de cálcio e vitamina D. O consumo de alimentos fortificados com esses nutrientes pode garantir a obtenção de todas as doses diárias necessárias para a manutenção da saúde.
Entre outros alimentos e bebidas fortificados comuns está incluso o suco de fruta fortificado com uma porção extra de vitamina C, a fim de substituir a perda deste nutriente durante a produção. Outro exemplo é o ômega-3 DHA em margarinas ou pastas.
Equívoco: eles dão um gosto diferente aos alimentos
Isso preocupa particularmente os consumidores quando veem que ômega-3 DHA foi adicionado a um produto, pois as pessoas costumam associar os ômega-3 a peixe. Nós realmente não queremos iogurte ou pão com gosto de peixe. Eca! No entanto, com o avanço da tecnologia, já não precisamos mais nos importar com isso. Existem muitas maneiras de se introduzir nutrientes como os ômega-3 em alimentos, mascararando seu sabor e odor de peixe. A técnica mais comum é o microencapsulamento, no qual o óleo é colocado em uma capsulazinha em escala micro, que contém o sabor e o odor até chegar ao intestino, onde pode ser partida e digerida. O microencapsulamento também garante que todos os benefícios do ômega-3 sejam preservados até que este alcance nosso sistema digestivo e não se degrade ao longo da vida útil do produto. Além disso, sendo a cápsula tão diminuta, ela não afeta as outras propriedades sensoriais do alimento hospedeiro como, por exemplo, sua textura. Técnicas como essa são utilizadas com todos os tipos de nutrientes no caso de uma fortificação.
Uma outra opção para se aumentar o índice de ômega-3 em alimentos é utilizar o ômega-3 DHA algal. Ele é derivado de algas, podendo ser utilizado para fortificar alimentos sem lhes conferir gosto de peixe.
Equívoco: não preciso consumir alimentos fortificados, pois tenho saúde o suficiente
Isso pode ser verdade, mas muitas pessoas no mundo têm falta de diversos nutrientes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que dois bilhões de pessoas no mundo inteiro (quase um terço de toda a população) têm deficiência de um ou mais nutrientes. Vegetarianos, veganos, grávidas, lactantes, crianças e idosos correm mais risco de desenvolver uma deficiência. Um relatório recente também indicou que o australiano médio tem um consumo diário de diversos nutrientes aquém do recomendado, incluindo ômega-3, ferro, zinco, cálcio e vitamina D, o que os coloca em risco de deficiência.
Os alimentos fortificados são a estratégia mais economicamente eficiente em longo prazo para se abordar as deficiências de nutrientes e seus problemas de saúde resultantes entre grandes populações. Você pode não se dar conta, mas alguns dos alimentos comuns que ingere têm fortificação compulsória. Todos os produtos à base de cereais na Austrália receberam determinação para serem fortificados com ácido fólico e iodo, a fim de reduzir a ocorrência de bebês nascidos com defeitos no tubo neural (DTN) e distúrbios intelectuais. Tenho certeza de que todas as mães estão cientes de que esses nutrientes são essenciais durante toda a gravidez para o desenvolvimento saudável do bebê, mas e aquelas que têm uma gravidez inesperada? A fortificação compulsória de ácido fólico e iodo nos cereais foi introduzida em 2009 e, até agora, os resultados têm demonstrado uma diminuição constante das taxas de DTN alinhada com a fortificação de ácido fólico.
Fique de olho nos alimentos fortificados ao fazer compras a fim de ajudar a aumentar o seu consumo de nutrientes.